Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

quinta-feira, 29 de maio de 2008

As boconas

As boconas

A vaidade humana esta perdendo os limites. Cada vez mais a beleza passou a ser o foco da atenção das pessoas a ponto de mulheres jovens realizarem preenchimento nos lábios para ter uma boca carnuda. Muito carnuda. Carnudissíma.
Silicone, lipoaspiração, plástica na barriga, no nariz, silicone nos glúteos, tudo aceitável, mas colocar substância na boca, local que deve chamar a atenção pelas palavras que profere, é um risco. Ou seja, a mulherada esta arriscando ficar feia com o anseio de ter um bocão estilo Angelina Jolie, afinal seguidamente ocorrem problemas neste tipo de procedimento.
Li em um exemplar da primeira semana de maio da revista Veja que a procura por preenchimento aumentou 30% entre mulheres de 20 à 30 anos, sendo, após os tratamentos anti-rugas, a intervenção estética mais procurada nos consultórios de dermatologistas. Confesso que me assustei.
As mulheres não estão tentando melhorar intelectual ou psicologicamente com ajuda profissional para se tornarem mais cheias de auto-estima e mais autoconfiantes, para serem melhores mães, profissionais ou parceiras.
Não investem no aprimoramento de seu intelecto, na gestão de suas emoções, na busca pela maturidade e beleza interior que é aquela que resplandece em simpatia, autoconfiança, charme, sendo um dos maiores atrativos no mundo dos peitões, bundas empinadas, rostos lisos, bocas grandes, cabelos longos e, infelizmente, idéias curtas (cabelos e cílios longos, porque até mesmo permanente de cílios existe. Fiquei sabendo outro dia quando fui me maquiar para um evento e me perguntaram se eu havia feito. Me assustei, até isso inventaram?)
O que me preocupa é o futuro do mundo. Será que adiantará termos misses beiçudas andando por ai, parecendo vasos sanitários de porcelana, com o diferencial que das boquinhas (perdão, das boconas) sai o que nestes entra? Não seria melhor um mundo de mulheres naturais, porém cheias de conteúdo, educando filhos afetiva e mentalmente saudáveis, sendo companheiras e amigas de bem com a vida e humoradas?
Nada contra a vaidade humana, mas o excesso é o que me apavora: A vontade de ser como a outra, como a atriz, a dona dos lábios lindos, do corpo perfeito que conserva assim porque precisa dele para sobreviver, se torna um problema posto que o desejar a beleza alheia se tornou um foco, um objetivo, e o se tornar melhor diante do que se é e do que se pode tornar foi legado a segundo plano, ou, infelizmente, a nenhum plano.
Os valores estão sendo invertidos e o que deveria ser um detalhe esta se tornando um aditivo principal: A beleza exterior é o objetivo, enquanto o bem viver consigo mesmo, a beleza interior, enfim, esta sendo legada ao julgamento de afirmativa piegas dos poucos que pensam e enxergam além do que os olhos podem ver e as mãos podem tocar.

Cláudia de Marchi

Marau, 29 de maio de 2008.

Ode ao casamento

Ode ao casamento

As pessoas adoram falar mal de situações que elas mesmo criam, gostam de criticar ao outro e de se apegar aos obstáculos e olvidar do prazer que existe na realização de seus intentos. Resolvi escrever uma ode ao casamento. Não ao casamento de pompas, festa, juiz e padre, entre pessoas, muitas vezes, de pouca experiência e maturidade. Nada contra formalidades, mas levanto a bandeira pró-casamento entre pessoas emocionalmente inteligentes que se respeitam e que não teriam motivo algum para dividir suas vidas e ceder sua liberdade abdicando das benesses da solteirice para ficar com alguém, se não o amor e admiração mútuos, logo o formalismo se torna desnecessário.
Casar é bom, viver junto com quem se ama, é ótimo. Ter um companheiro para te ouvir, pegar na mão, conversar, dividir a cama, a mesa e o banho, dar boas risadas, e, porque não dizer, ter bons momentos de prazer com quem, não à toa, resolvemos escolher para ser nossa companhia, também na horizontal, todas as noites. Mas o convívio entre duas pessoas de sexos opostos só pode dar certo quando ambos estão emocionalmente bem e aptos. Mulher que quer homem que ouça seus lamentos e lhe "compreenda" sempre sem nada comentar, que deseja um homem servil e apoio verbal em todos os momentos, na verdade, deveria desistir da posição de heterossexual e procurar uma namorada, uma companheira. Homem é homem, não é psicóloga, nem tem alma feminina.
A alma feminina é cheia de virtudes, mas, quem disse que a masculina também não é? Homens e mulheres são diferentes na forma de ser e pensar. Faço um parêntese para dizer que creio que homem interessante, homem bom com "b" maiúsculo é aquele bem diferente da mulher, aquele que expira testosterona. Homem doce, meigo, "todo ouvidos", tem alguma coisa errada e a mim não agrada.
Homem é homem. Mulheres são mulheres e o sucesso da união de ambos depende da paciência do casal e, porque não dizer, da compreensão da mulher de que o companheiro apesar de lhe despertar paixão e encanto é bem diferente dela na forma de ser, do cérebro à (graças ao Criador!) ao físico. Se os pressionarem para deles extrair o lado feminino irão transformar a relação num inferno arriscando uma traição. Dai, lamento, mas não adiantam lamúrias.
Os homens, obviamente também devem compreender as diferenças, a maior sensibilidade das mulheres, por exemplo, todavia não tem homem que agüente mulher de sensibilidade extremada, que reclama de suas atitudes, lhe repreende ou critica. As atitudes dos homens em ficar quietos, introspectos, são interpretadas como grossura pela mulher, cujas atitudes extremadas beiram mais a chatice e criancice.
Antes de casar as pessoas deveriam procurar uma psicóloga, ler livros sobre relacionamentos e diferenças entre os sexos ou, simplesmente, viver mais, do contrário irão arruinar o relacionamento por incapacidade de compreender as diferenças e, portanto, ter um relacionamento legal e cheio de parceria, e, diga-se com um bom parceiro ou parceira.
Antes de jogar pedra no outro toda pessoa que vive com alguém deve analisar com mais afinco as suas próprias atitudes porque num relacionamento o ato de um costuma ser uma espécie de eco ao agir do outro. Maturidade, experiência de vida e de convívio humano, humildade de espírito e, principalmente, vontade de ficar com o outro são imprescindíveis. Afirmo, pois que casar é muito bom, mas não é para todos.
Algumas pessoas jamais deveriam morar com alguém: Aqueles que não amam compreendendo a importância da liberdade num relacionamento, e, em especial aqueles que, apesar de amarem, não estão dispostos a ceder, compreender e, principalmente, respeitar o outro diante das diferenças inerentes. Não esta disposto a aceitar as distinções entre os sexos?Não esta disposto a viver com um ser extremamente diferente? Fique só ou mude de opção sexual. Homens e mulheres, entre si, se relacionam com mais facilidade, assim como gente problemática com um bom psicólogo.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 29 de maio de 2008.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Reclamações de frustrado.

Reclamações de frustrado.

Poucas afirmativas femininas me indignam tanto quanto as que pretendem taxar os homens como animais irracionais, infiéis e, pois, iguais entre si. Da mesma forma me irrita o papinho típico de machinho com ego ferido quando afirmativas depreciativas se direcionam as mulheres.
Cada um julga de acordo com as experiências que teve: Não são os homens os desleais, nem as mulheres, as quais as pessoas magoadas tentam criticar. Infeliz e desleal com o mundo é a atitude de quem teve experiências lamentáveis e não consegue verificar que nele existem muitas pessoas virtuosas e bondosas.
Não convém analisar os motivos pelos quais algumas pessoas entram em relacionamentos “fraudes”. Na época da popularização da “lei da atração” muitos podem dizer que as pessoas atraem tais relações, que, enfim, “semelhante atrai semelhante”. Explicações, justificativas, existem várias.
Ruim é ter o ouvido confundido com pinico quando uma pessoa frustrada começa a despejar lamentações e generalizações sexistas em cima dele. Mulheres: Os homens prestam sim, têm o tempo deles para amadurecer, as fases, mas são pessoas objetivas, fáceis de compreender e que se apaixonam de verdade por aquelas que acham que lhes merecem. São vaidosos, mas têm coração e podem ser bem sinceros.
Homens: Nem todas as mulheres são interesseiras, falsas ou complicadas. Muitas gostam mesmo de homem, não de dinheiro, muitas são parceiras boas de cama, de cozinha, de acampamento, bebedeira e festa.
Humanos, enfim: Toda generalização é burra. O mundo é muito grande para ser habitado por pessoas iguais em defeitos. Respeitar, perdoar e compreender o outro, à si mesmo e suas escolhas (inclusive as mal feitas) é fundamental.
Da mesma forma é essencial compreender que nem todos são fadados às mesmas decepções, logo, meus caros, não aluguem os ouvidos alheios com reclamações que generalizam os defeitos do sexo oposto, quando, na verdade, o frustrado é você.

Cláudia de Marchi

Marau, 28 de maio de 2008.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Sem enfeites verbais.

Sem enfeites verbais.

Em tempos de amizades virtuais, em que nos comunicamos mais por e-mail, “scraps” e afins do que pessoalmente algumas palavras se tornam “chavão” para criar uma pseudointimidade, é o tal de “amiga”, “querida”. Acho assustador ser chamada de amiga por uma vendedora, por uma desconhecida encontrada num banheiro de bar, por exemplo.
Em tempos de liberdade sexual e relacionamentos mais fugazes e sem sentimento do que um esbarrão num desconhecido em liquidação de loja popular, outras palavras tentam criar profundidade para o que foi é e sempre terá o mesmo significado: O sexo, enfeitado pelo tal “fazer amor”.
Nem minha melhor amiga me chama de “amiga”. Não faço amor com meu marido. Faço sexo mesmo, amor a gente sente, sexo a gente curte, devassa, extravasa entre quatro paredes. Sexo com amor? Ah, isso é incomparável, felizes os que podem tê-lo diariamente. Mas, “fazer amor”? Com licença, muito piegas, extremamente brega uma expressão que tenta dizer que a boa e velha sacanagem é a realização de um sentimento.
A gente não faz amor nem com que a gente ama. Sexo é realidade, pele, sacanagem, tesão, fogo, química perfeita, conjunção de lábios, braços, pele, suspiros, gemidos e aquele “que” pessoal que cada um tem na hora do prazer, coisas que não se falam por ai, sexo bom é o indiscreto, o bem feito a dois. Amor é sentimento, é dádiva divina, é um tudo neste mundo em que as relações entre sexos opostos (e entre os iguais também) estão se tornando “nadas” com nomes variados: “Eu fiquei”, “eu sai”, “eu peguei”.
Não precisa enfeites para definir o sexo, nem substantivos e adjetivos alheios à relação para buscar proximidade. Cliente é cliente, freguês é freguês, conhecido é conhecido, e amigo é amigo. Não precisa “querido”, “meu caro”, “amado”, “amigo” para tentar uma intimidade inexistente. Sem hipocrisia, cada um na sua, com respeito, sem palavrinhas de “puxa-saco”.
Adornos demais deixam qualquer coisa cafona, brega, tira a graça da roupa mais cara, mais bela, mais chique. O que é bonito e sincero não requer outros enfeites. Relações profissionais, superficiais existem e sempre existirão, não há necessidade de inserir palavras para “aproximar”.
Amor entre um casal na cama e fora dela é o ideal, mas, tanto os que se amam quanto os que não se amam, entre quatro paredes fazem o bom e velho sexo. Tentar enfeitar o perfeito gozo carnal com um sentimento que se goza na alma é ridicularizar o que é bom e o que é belo e, portanto, dispensa outras adornos verbais.

Cláudia de Marchi

Marau, 23 de maio de 2008.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Pessoas de alma livre.

Pessoas de alma livre.

Existem pessoas que possuem o coração livre. Elas sentem a liberdade de poder serem quem são e de bem gozar suas vidas, na alma. São pessoas diferentes, que não sentem solidão quando estão em silêncio, quando estão sozinhas na presença apenas de seu corpo e de sua alma.
São pessoas que ouvem seu coração, seus sentimentos sem perceber que não existe movimento ao seu redor. Elas não sentem agonia, desconforto, elas se sentem plenas, como se sua energia preenchesse cada espaço do ambiente em que estão.
São pessoas que gostam da liberdade como os pássaros, mas não precisam voar para se sentirem bem, elas se sentem bem mesmo trancadas num apartamento para garantir sua segurança, sua alma, pois, voa, e lhe traz energia e ânimo. Mas elas também não temem andar pela madrugada, não o fazem por precaução, porém, se um dia quiserem, farão com altivez e consciência do prazer que o perigo, naquele momento, lhes instiga.
As pessoas de alma livre também criam apego, também amam, inclusive de forma intensa, todavia seu sentimento fica mais fraco na medida em que circunstancias tentam oprimir sua liberdade. O amor, para essas pessoas, se perpetua, se fortifica e se mantém enquanto elas conseguem sentir que são livres.
Livres, não traiçoeiras. Livres, não tolas. Livres, mas compromissadas com o que sentem e por quem sentem. Quem possui o coração liberto sabe como poucos compreender o amor. Ama sem dramas, compreende os pesares dos relacionamentos, não se deixa frustrar, não deixa a decepção de um relacionamento malfadado escurecer seu coração que brilha de luz.
Assimila, compreende, sacode a poeira e segue adiante. O coração livre tem muito amor para dar e sabe que tem muito a receber, não se entrega, não se deixa marcar por negativismos. Sorri, resplandece liberdade e, assim, vai armazenando boas lembranças, sentimentos nobres, pulsando livremente e se alimentando de alegria e felicidade.

Cláudia de Marchi

Marau, 21 de maio de 2008.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Justificável, ou não?

Justificável, ou não?

Existem condutas que a gente não consegue justificar, normalmente, são as alheias, mas, por que pretendemos explicar ou "bem assimilar" os atos dos outros? Não devemos nos importar com o agir alheio, nem julga-lo, afinal, quando a conduta é nossa, por mais absurda e tola que seja, conseguimos justificar, via de regra, com maestria.
Estava pensando no agir de muitas pessoas, na omissão de alguns frente a fatos que eu julgo importantes, no abandono de outros, no malbaratamento dos sentimentos e vidas alheias, no agir tosco e egoísta de muitos, na desonestidade de tantos, na falta de amor de alguns, no ato de alguns seres ao legar ao nada a existência de quem foi colocado no mundo, na falta de prevenção das pessoas contra fatos sérios e geradores de grandes responsabilidades que, ainda que ouça justificativas e explicações, meu íntimo se contorce por lhes julgar injustificáveis.
Mas, e dai? Devemos aprender que não precisamos e nem podemos tentar entender completamente as justificativas do agir alheio, portanto, devemos ter a consciência de que só devemos satisfação a nós mesmos, à nossa consciência e não ao outro. As pessoas são diferentes entre si, mas cada uma sabe a dor que tem no coração, as agruras, a agonia que sentiu em determinados momentos, ou mesmo a felicidade magnífica que teve, só quem sente, chora e sorri sabe, enfim, o que lhe motiva.
O que eu justifico e acho justificável por ter uma forma pessoal e íntima de pensar, ser, sentir e agir, outros podem achar, literalmente "sem explicação", mas, o que isso importa? Paz, quem tem que ter é o homem quando a sós consigo. E a tranqüilidade de espírito, a paz da alma só tem o homem que justifica com orgulho o seu agir para a sua própria consciência, porque é e sempre será ela quem irá lhe cobrar satisfação como uma mãe ríspida ao filho, como um juiz frente ao infrator da lei.
E, é por isso que, com nossa vida atribulada, devendo prestar contas de nossos atos apenas à nós mesmos, não precisamos julgar ao outro, concordar com suas justificativas, ou mesmo lhe cobrar mudanças, assim como não devemos exigir o mesmo dele em relação as nossas. Ao outro devemos respeitar, compreender suas limitações e atos, sem muito esforço para aceitar ou não seu pensar: Quem tem que aceitar e justificar seus atos é ele, para ele mesmo, e nós, os nossos para nós mesmos. E nesse balanço fica feliz apenas aquele que age de forma coerente com sua consciência, crenças e sentimentos.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 20 de maio de 2008.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

“Teu passado te condena.”

“Teu passado te condena.”

O passado não volta, todavia ele é uma parte do homem que não pode ser apagada, pois atesta quem um dia ele foi, sendo fundamental para que ele tenha plena certeza de quem se transformou. Do passado o homem sapiente afere aprendizado. Tristes são os que lamentam seu passado, olvidando o bem que dele podem tirar.
O homem é, no presente, o resultado de suas experiências pretéritas. “Teu passado te condena”, diz a frase com fundo de comicidade. Na verdade o passado condena qualquer pessoa que queira, no presente, omitir os erros, mancadas, enganos, tropeços e atos do ontem por deles não se orgulhar.
Porém, de nada adianta ter vergonha do que se fez. Certo ou errado, bonito ou feio, imoral ou não, glorioso ou banal, rico ou pobre, vazio ou cheio, feliz ou infeliz, fugaz ou rígido, leve ou preso, conturbado ou calmo, o passado existe no pensamento de quem viveu. De nada adianta o arrependimento, o que passou tem que servir de aprendizado sobre o que se fazer ou não no amanha e de como melhor se viver o presente.
Fugir das lembranças é a melhor forma de fazer o passado surgir com os mesmos erros, no presente. Quanto mais tenta escapar, mais dele o homem se aproxima, porque só tenta fugir do que se teme, e só o que tem alguma importância para ele pode fazê-lo temer.
Assimilar o ontem, compreender as circunstâncias da vida em tal momento, a própria alma: O “não muito” que sabia e o “melhor” de si que era dado quando não tinha consciência de que, no presente, seria julgado “pouco” é a mais sábia forma de raciocinar sobre as experiências tidas na vida.
Afinal, se hoje sabe mais, pensa diferente e age de forma diversa é porque o ser humano cruzou a estrada do ontem, para pousar no presente e, quem sabe, chegar num rumo ainda mais diverso no amanha.

Cláudia de Marchi

Marau, 20 de maio de 2008.

Mania de coitado



Mania de coitado


Certa vez um amigo me disse que tudo o que é demais acaba sobrando. E sobras, excessos nunca são interessantes, afinal, se a escassez traz alguns males não é diferente o que ocorre com o excesso: A medida é o equilíbrio, o nem demais, nem de menos. Existem gostos, hábitos repetidos, manias que se tornam patológicas sem serem percebidas por quem as tem.
Existem pessoas de todos os tipos nesse mundo. E manias para todo o tipo de pessoa, por isso existem os que tem mania de grandeza, mania de perseguição, mania de vaidade e assim vai. Outro dia fui no salão para uma sessão básica de depilação. Estava lendo uma revista enquanto a adorável profissional fazia, em mim, o seu trabalho quando ouvi uma moça na outra sala em que a manicure trabalhava: "Porque da próxima vez eu vou abrir o teto solar do carro, os vidros, farei um escândalos se ele fumar". Chata, muito chata. Ninguém queria saber do teto solar do carro e de seu gênio anti-tabaco num salão onde muitas pessoas poderiam ser fumantes.
Como não consigo conter meu pensamento comentei com a depiladora em voz baixa: "Que mulher chata". E ela concordou, dizendo que a mulher chegou ali dizendo que sua calça caríssima da Fórum estava caindo na cintura. Chata, muito chata. Ninguém queria saber a marca da calça, por exemplo. A chatice esta nos detalhes, isso eu aprendi. E a mania é verificada por ele, no caso, de grandeza e vaidade: A mulher queria aparecer, se mostrar melhor e, como ela, existem muitos seres no mundo.
Mas existe uma mania muito infeliz e que a muitos irrita. É a mania de coitado. O coitado é aquele sujeito que vive se achando vítima, que não assume o que faz, (apenas quando acha que agiu correto, é claro). O coitado, via de regra, não erra. São os outros que erram por ele, que atravancam a vida dele, que atrapalham seu caminho. O coitado não faz negócios ruins, não se logra. Ele é vítima da astúcia alheia. O coitado não se sente capaz de ser amado, quando se vê diante do amor ele se assusta e busca uma forma de voltar à sua posição de coitado-mal-amado-infeliz-depreciado-usurpado-nato.
O coitado só tem tal mania porque não consegue olhar para os lados. Na verdade ele é, isto sim, um egoísta por natureza. Os problemas alheios não lhe interessam, apenas os dele - que ele enxerga com uma bela lente de aumento (aliás, todo o egoísta tem uma lente dessas para ver seu próprio umbigo)-, o sofrimento do outro nunca é grande como o seu, a vida, os percalços, os problemas existenciais alheios, para ele, nada são. Só o que é, de fato, ruim, grandioso, deprimente, entristecedor são as suas mazelas, as ocorrências da sua vida.
Toda pessoa que tem mania de coitado deveria parar para olhar o mundo. Quem esta ao seu lado, atrás de si, e, inclusive, as pessoas que ele faz sofrer enquanto busca argumentos para justificar a sua infeliz "coitadice". Existem muitas pessoas com mais problemas que não encaram eles como sofríveis e, pelo contrário, tentam lhes superar e serem felizes. O coitado é digno de pena porque seu egoísmo lhe cega, apenas por isso. E toda pessoa sentimentalmente cega não tem compaixão, e essa é uma má conseqüência de quem cultiva tal mania, afinal, quem não se compadece com o que vem dos outros é porque esta oco por dentro fazendo, assim, jus ao adjetivo de coitado que tanto busca ter.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 19 de maio de 2008.


terça-feira, 13 de maio de 2008

A dádiva do amor

A dádiva do amor

O amor é o sentimento mais mágico que um ser humano pode sentir. Ele faz milagres. Ele faz a gente sorrir num dia nublado, dar de ombros para um desaforo, faz a gente ter vontade de dormir e não acordar só para ficar nos braços de quem nos faz sentir bem.
O amor não nos garante felicidade constante, não nos garante ausência de brigas e discussões em nossos relacionamentos, ele garante, apenas, a vontade de superar os obstáculos, de relevar as pequenas mancadas, de rir e não criticar ou tripudiar, de ser paciente e indulgente, ele garante a vontade de superar o comodismo da solteirice para adentrarmos na famosa “vida a dois”.
Todavia, a primeira espécie de amor é o nutrido por nós mesmos. Quem não se ama, quem não se respeita, não tem capacidade de fazer-se respeitar e, sem impor respeito, como cativar o coração de alguém?
Ninguém quer um tapete para pisar, uma pessoa com vocação para obedecer ou ser saco de pancada, alguém que aceite erros graves e vá cortejar aquele que chama de “amor”. O ser humano quer amor e não pseudodemonstrações do sentimento que mascaram uma baixa auto-estima. O maior indício de que uma pessoa pode ser amada é o fato dela se amar, se respeitar e se impor.
A pessoa é o amor que ela tem por si mesma é por isso que uma mesma pessoa pode ser diferente no trato com outras, porque cada um recebe o que se dá, inclusive quando o assunto é amor e respeito, primeiro ele tem que ser dado para si mesmo, para depois vir do outro.
Mas, quando duas pessoas afetivamente maduras, com estima própria passam a nutrir amor uma pela outra, tudo se torna mais leve, mais alegre. Amar é uma dádiva, mas saber se relacionar é uma exceção neste mundo. Por isso poucas pessoas conseguem, realmente, viver a dádiva do amor. Ela envolve vários pormenores que não tornam o amor complicado, apenas dificultam a estrada do homem até ele.

Cláudia de Marchi

Marau, 13 de maio de 2008

Ser, apesar de não ter.

Ser, apesar de não ter.

Assistindo a todas as fenomenais gafes vulgares do jogador Ronaldo, que, há muito tempo, deixou de ser um “fenômeno” em campo, comecei a pensar nas agruras dos milionários como ele. Dinheiro é um objetivo de muitas as pessoas, mas em excesso ele pode ser muito perigoso.
O perigo da riqueza ou de qualquer outra forma de gozo do que a grande parte das pessoas considera fortunas materias (a beleza, por exemplo) é que elas não são tão efetivas no que tange a realizar o homem do que “famosas” nesse aspecto.
Espera-se demais delas, mas, na realidade, elas podem mudar o mundo ao redor do homem e não seu âmago, seu interior. E o perigo é a realidade: A vida do homem esta nele e não fora dele, o homem é o que ele sente quando esta a sós consigo e não conferindo o extrato bancário, degustando drinks por ele pagos com um grupo de “alegres companheiros” ou curtindo uma noitada com uma mulher, ou, porque não, com um travesti (vai que vire moda).
Um homem pode ser muito contente, pode ter uma grande alegria de espírito sem ser belo ou rico, pode ter auto-estima e amor próprio sem ter uma conta bancária excelente, um abdômen malhado e um sorriso cativante.
O homem pobre ou classe média que não esbanja o “não muito”, ou, de fato, o pouco que possui pagando festas e agradando “parceiros”, sabe que aqueles que possui são seus amigos de verdade por ele ser como é, por ser quem é e não por possuir o que possui e aparentar o que aparenta.
Mas, e o milionário cujas mulheres que lhe cortejam o fazem pelo poder aquisitivo que possui, que se fosse pobre metade de seus “amigos” não estariam em sua companhia, e a pessoa que sendo bela sente que atrai pessoas sem que elas se interessem em saber quem é o ser por trás do sorriso cândido? O que sentem essas pessoas?
E se perguntarmos para o Ronaldo, ou para qualquer pessoa cuja carreira o fez milionário: “Quem é você e o que você tem sem ser o dinheiro?”, será que a resposta seria alegre ou seria melhor alcançar-lhe um ansiolítico, antidepressivo ou uma porção de cocaína ou heroína?
A pessoa é muito mais do que ela possui. Um ser humano não é, nem mesmo a cultura que tem, ainda que este seja um dos seus melhores atributos, nem a beleza, muito menos o dinheiro. Ele é um conjunto de valores, uma alma que deve ser alegre e feliz, antes, por ser quem é, pensar como pensa, sentir o que sente do que por ter alguma coisa material que possa atrair os outros.
O homem deve ter orgulho de ser e não de possuir algo nesta vida, e para ser não é preciso ter fama, dinheiro ou beleza, é preciso ter uma alma iluminada e alegria de estar no mundo e, portanto, ser contente nele.

Cláudia de Marchi

Marau, 13 de maio de 2008.

sábado, 10 de maio de 2008

Além da capacidade de gerar uma vida.

Além da capacidade de gerar uma vida.

Ser mulher é uma dádiva. Ser esse ser complexo em sentimentos, e simples em sentir, ter por características a persistência, a habilidade aguçada de sentir compaixão, de perceber o que o outro sente com um simples olhar, de ter orgasmos múltiplos, de concentrar várias habilidades e, enfim, de poder gerar uma vida, é gratificante.
Dia das mães é a data na qual podemos homenagear aquela mulher que nos cuidou, guiou, que nos aqueceu quando sentíamos frio, que nos deu alimento, carinho, instrução, fazendo o seu melhor por nós, ainda que, hoje em dia, vistamos nosso orgulho criticando suas ações pretéritas alegando que poderia ter sido “melhor mãe”, fato é que ela fez o seu melhor.
Fez o que sabia e podia para o nosso bem no ontem, hoje talvez ela agisse diferente, talvez não casasse, talvez tivesse fugido com um colega hippie e fosse esperar os 40 para ter um bebê, talvez passasse a vida sem ter filhos, como saber? Só Deus sabe o que se passa na mente da mulher por trás do “manhe”, do “mami”, “mamãe”, ou, simplesmente mãe.
O comércio afere grandes lucros em datas comemorativas como o dia das mães, mas quem deveria lucrar somos nós parando para pensar na responsabilidade por trás da dádiva de gerar uma vida. Nem todas as mulheres têm vocação para a maternidade, e é por isso que existem tantos adultos infelizes, inseguros, problemáticos, cruéis, e egoístas no mundo.
Mulheres que acham que ser mãe é gerar uma vida, amamentar e depois passar o resto dos dias reclamando, ouvindo sem paciência (ou nem mesmo ouvindo) seu filho, não lhe dando atenção, mulheres que engravidam na intenção de manter ou fortalecer um relacionamento ou, pior, na intenção de fazer de seu filho uma “poupança” para que um infeliz pague pensão alimentícia, são criminosas, e não mães.
A dádiva de poder gerar uma vida praticamente todas as mulheres possuem, poucas, infelizmente, são as que têm o dom da maternidade. A capacidade de abdicar do egoísmo em prol do filho sem dele tornar-se escrava, a capacidade de ser amável, amiga e companheira sem se tornar demasiado permissiva, a capacidade de ser ríspida sem ser autoritária, sem humilhar, a capacidade de instruir e comandar uma prole sem ser ditadora e desrespeitosa, poucas possuem.
É em homenagem a estas mulheres admiráveis que escrevo e cumprimento no dia especial para as boas mães, que são as que sabem ser más no momento certo para educar pessoas com limites e não seres impiedosos e egoístas que irão passar a vida achando que o Universo e todos os seres deve ser servis como sua mãe foi, pela simples má vontade de lhe ver chorar por ser contrariado quando mal sabia falar.
Para as mulheres que ainda não se tornaram mães, posso, apenas dizer que antes de qualquer ação a reflexão é necessária. Mais ainda quando a ação é conceber uma vida, porque ser mãe vai muito além deste ato e implica em homéricas e inúmeras responsabilidades. Ser mãe vai muito além da capacidade de gerar uma vida.
Uma boa terapia psicológica e o uso de anticoncepcionais de qualidade fazem bem, em especial antes de tomar a decisão de ser mãe. Ter capacidade financeira para sustentar o filho também, afinal, crianças precisam de pais e não apenas de provedores.
Filhos, nos tempos atuais em que os contraceptivos são de fácil acesso e preço, devem nascer do amor entre duas pessoas e não do desejo egoísta de uma mulher que não tem capacidade emocional sequer para perceber os sentimentos por ela nutridos pelo “possível” pai de seu filho, nem capacidade financeira para lhe dar boas condições de vida.

Cláudia de Marchi

Marau, 10 de maio de 2008.

Prazer

Prazer

Creio que tenha sido o pai da psicanálise, Freud, quem tenha definido com dedicação o Principio do Prazer. Desde criança o ser humano almeja o prazer, não apenas sexual, mas o “sentir-se bem”. Todavia, no mundo adulto muitas são as formas reais e inventadas de sentir prazer, alegria, enfim, de se ter bem estar.
Dinheiro, beleza, saúde, sucesso, amor, sexo, não necessariamente nessa ordem, e, tampouco “isolados”: O homem quer todos esses objetivos e muitos outros agregados. Mas, e “separadamente”, qual tem, de fato, maior valor, qual, realmente propicia um maior sentimento de prazer, entendido aqui como realização do individuo consigo mesmo (aquela sensação boa que o homem sente quando estufa o peito, ergue a cabeça e dá um sorriso de satisfação)?
Olhar no espelho e ver um rosto bonito, uma pele em ordem, dentes saudáveis, boca sensual, olhar penetrante. Uau! Ainda, em frente ao espelho visualizar um corpo firme, formas definidas, “celulite zero”, barriga dura, glúteo arrebitado. Mais uma série de “uau”. Mas, nem todos concordam com Caetano ao cantar “não me amarra dinheiro não, mas formosura, dinheiro não, a pele escura, dinheiro não, a carne dura, dinheiro não!”.
Na verdade, o que satisfaz o ego é a auto-estima. Muitas pessoas não possuem a carne dura, a pele escura, nem muita formosura, mas se vêem belas e por isso são contentes, alegres e transmitem boas energias, cativando quem lhes cerca. Não sou fútil, mas concordo com Caetano, não me amarra dinheiro não, mas elegância, cultura, carne dura, beleza pura, como diz a música.
Dinheiro, eis o objetivo maior do homem hoje em dia. Dizem que o homem feio com dinheiro se torna bonito, que a mulher endinheirada fica atraente, que dinheiro no bolso faz pessoa com “dor de cotovelo” ir sofrer em Paris. Não me importa muito isso, homem tem que ser bom em muitas coisas, em especial na dedicação ao trabalho, na ambição, mas não precisa ter uma conta bancária para realizar anseios femininos.
O dinheiro pode até comprar silicone, plástica, mas não compra aquela beleza que vem da alma, a alegria de viver e ser, neste mundo, quem se é. Quanto a sofrer em Paris ou qualquer lugar do mundo, não há relevância, bom mesmo é não sofrer, é ser capaz de deixar a dor de lado quando alguém que não nos valorizou, por exemplo, nos decepciona. Bom é ter inteligência emocional, e não dinheiro para gastar em demasia por incapacidade de lidar e superar a dor.
É bom sentir o prazer de fazer o que se gosta, conquistar objetivos, ter vitórias na profissão que se escolheu por sentir amor por ela. É bom sentir o prazer de pegar forte na mão de quem se ama, de abraçar, de sentir aquele calor, aquela vontade de ficar junto de alguém por ter por ele admiração e respeito.
Boa é a satisfação de se sentir bem na própria pele, de aprender a gozar a própria liberdade, de se desamarrar de conceitos hipócritas e fazer bem para si mesmo sem prejudicar aos outros, mas, também, sem dar importância ao seu julgamento e, assim, viver bem e incomodar os que não suportam ver uma pessoa alegre, de peito estufado, coração contente e sorriso nos lábios, aqueles que não suportam ver uma pessoa que vive com prazer e satisfação, simplesmente, viver.

Cláudia de Marchi.

Marau, 10 de maio de 2008.

sábado, 3 de maio de 2008

Aborto.

Aborto.

Segundo dados do documento “Aborto e Saúde Pública: 20 anos de Pesquisas no Brasil”, produzido pena UNB (Universidade de Brasília) e UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) 70% das mulheres que optam por aborto vivem em união estável e já possuem filho, 51 a 82% deles são feitos por mulheres com idade entre 20 e 29 anos, apenas 7% a 9% são cometidos por adolescentes.
Aliás, segundo a pesquisa
[1] mais de 50% das mulheres que abortaram na região sul e sudeste do país usavam algum método anticoncepcional, principalmente pílulas. Dados importantes do estudo foram coletados pela Universidade Federal de Pelotas que garantiu o anonimato das entrevistadas.
Pois, apesar da possibilidade e uso de métodos contraceptivos as mulheres cuja idade não poderia ser chamada de tenra, nem as condições de vida de “precárias” fazem uso do aborto, geralmente, usando Cytotec para interromper uma gravidez indesejada. Certo ou não? O fato é real, julgamentos e bandeiras “pró” ou “contra” não são convenientes, ao contrário da reflexão que é uma necessidade.
Por trás de todos assuntos polêmicos em nosso País existem dois lados em constante oposição: o lado real, do que realmente ocorre, e o outro, o do “ilegal”, “imoral”, enfim, o lado dos pregadores da “palavra de Deus” – à sua moda é claro -, e dos moralistas, dos códigos legais influenciados por uma gama de argumentos que são, enfim, notoriamente hipócritas.
Fala-se da asseguração por parte do Estado da vida do nascituro. E, ai esta ele, novamente, cuidando, ordenando o que não deveria, porque o nascituro, o feto, esta dentro do ventre de uma pessoa que precisa de muito mais do que “obediência” à lei para ser uma boa mãe. Ou será que o Estado acha que com o aparato educacional, com as bolsas assistencialistas que oferece, irá suprir a falta de carinho, de esmero na educação da criança cuja vida “assegurou”?
Na verdade a cada dia que passa vem se tornando inócua a criminalização do aborto. Como no caso dos entorpecentes: Não é por ser licito ou não que alguém usará drogas ou abo
rtará. As pessoas usam sua liberdade para o que desejam quando possuem vontade ou motivos para agirem, enfim, mesmo ludibriando a lei buscam realizar seus intentos. Justos, corretos, saudáveis? Julgamentos dessa índole são desnecessários. Eles ocorrem sempre, a maioria dos seres humanos adora jogar pedra nos outros.
A liberdade, pois é o direito que deve ser mais respeitado, embora haja uma vida que a mulher pretende extirpar, existe ela e seus julgamentos, ela e seus problemas financeiros e, principalmente, íntimos, psicológicos. Ela e seu despreparo para, não gerar uma vida, mas para cuidar de uma como uma ela merece e deve ser cuidada. Se uma mulher grávida deseja interromper uma gravidez, não possui tal vontade “por nada”. Ela conhece bem seus motivos, que vão muito além de imaturidade ou dificuldade financeira.
A sociedade deve quedar-se inerte. O Estado também deveria fazê-lo, deixando a hipocrisia de lado, tirando os panos que tapam a realidade e causam problemas de saúde à muitas mulheres que abortam por baixo deles.
O ônus de impedir uma mulher de fazer o que ela deseja dando à luz a uma criança indesejada certamente será pior. Educar filhos, tal qual constituir um casamento requer amor, muito além de dinheiro. E, se com amor nem sempre é fácil, com desprezo e má vontade certamente se torna impossível e carinho, afeto, respeito e amor são as bases para a educação de pessoas saudáveis, porque de criminosos, egoístas, mal amados e psicopatas o mundo não precisa mais.

Cláudia de Marchi

Marau/RS
, 03 de maio de 2008.

[1] Zero Hora, edição de 02 de maio de 2008, página 47.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Chocante

Chocante

Existem notícias e fatos que me chocam, como por exemplo, a violência urbana gerada pelo tráfico de drogas num Estado que não pensa na forma mais racional de impedir que a ilicitude de condutas gere uma cadeia ainda pior de delinqüência e ignora o fato de mulheres morrerem diariamente na tentativa de tirar de seu ventre filho não desejado. Sim, estou insinuando que existe racionalidade na legalização do aborto e das drogas (!).
Tribute a cocaína, a maconha, dentre outras substâncias, e acabe com a grande renda dos traficantes, com um pouco da corrupção política e policial, e outras atividades dos bandidos, patrocinadas pelo dinheiro do tráfico, como seqüestros, contrabando de armas, guerrilhas, afinal, uma coisa é certa: Quem quer consumir vai fazer sendo a venda lícita ou não. Da mesma forma com o que acontece com cigarro e bebidas alcoólicas. É preciso desmistificar muita coisa para que o agir racional e inteligente se torne efetivo.
O Estado gasta milhões na “luta contra o tráfico” e não obtém êxito. Então, porque não mudar a estratégia? Porque não investir mais em aumento de salário dos policiais, em saúde, educação, controle de natalidade, planejamento familiar para que milhares de pessoas inaptas para ter filhos não coloquem pessoas no mundo que, fadadas ao desamor, busquem em entorpecentes, por exemplo, um elixir para a dor de ser um mal colocado afetivamente na vida.
Legalizar aborto? Descriminalizar? Sim. Para aquelas que, sem conseguir evitar o indesejado, não terminarem tendo que criar crianças com futuro abortado: Mal amadas, mal cuidadas, criadas em situação precária, dentre outros problemas. Se eu abortaria? Não, provavelmente, mas tive uma educação diferente e condições de vida diversas das de muitas mulheres, dentre as quais estas cujo destino me arrepia e me faz pensar nessa possibilidade.
Se eu me drogaria? Se sou a favor da maconha, cocaína, dentre outras drogas? Não, sou absolutamente contra. Jamais peguei um cigarro na mão, tampouco levei à boca. Mas, tenho amor, auto-estima, prezo minha vida, tive, enfim, uma educação primorosa. Ainda que me dessem drogas, que elas fossem gratuitas eu não usaria. Logo, não é o fato de serem lícitas ou não que faze com que elas sejam consumidas.
É o usuário quem tem problemas psíquicos e orgânicos, que vicia num mal, e o traficante enriquece as suas custas, então, Estado, porque não legalizar e, assim, minimizar os efeitos do tráfico ilícito de entorpecentes em relação a milhares de pessoas que são, indiretamente, por ele prejudicadas (invasão de polícia em favelas onde a maioria são pessoas honestas, tiroteio onde crianças morrem, inocentes tendo a vida terminada)? Garanto que pouco ou nada mudará na mente dos que pretendem experimentar ou usar drogas se elas forem legalizadas como o álcool e o cigarro que, também, causam males homéricos.
Para governar, criar leis, criminalizar ou não condutas é preciso análises que vão muito além do que é religiosa, psicológica ou moralmente tido como correto. É preciso colocar os dogmas numa lixeira, a análise intima do que é intimamente “certo ou errado” deve ser excluída. É, pois, necessário que se pondere o que irá beneficiar a maioria, o bem comum.
Mas não o “bem comum” dos religiosos preconceituosos, mas o bem de pessoas normais, errantes, comuns que vivem num Estado desigual por excelência, que negligencia a realidade dos menos abastados e faz vista grossa para o agir dos ricos. Mulheres ricas entram em clínicas com um “problema” no ventre e saem de salto alto. As pobres morrem ou ficam inférteis para sempre.
Certo, errado? À mulher compete essa decisão. Será menos prejudicial para a sociedade deixa-la fazer o que deseja com o feto indesejado do que obriga-la a ter um filho que, via de regra, criado mal e em situação de necessidades poderá ser o assaltante de amanha, ou o sociopata que, (mal) educado, sem amor, não consegue respeitar o ser humano, e, quiçá dará despesas aos cofres públicos futuramente, estando no presídio ou recebendo alguma “bolsa” do governo que, ao que se pode ver hoje, mais do que nunca, percebeu que o assistencialismo dá votos, e, obviamente, lucros.
Certo é que lamento muitas coisas nesse País, na conduta dos governantes, na infeliz influencia da Igreja Católica em nosso Estado e no mundo todo. Existem muitas, mas muitas coisas fora da ordem. “Fora da nova ordem mundial”, onde a compaixão e a análise fria e crua das situações deveriam prevalecer. Se são incompatíveis? Não, não são. A compaixão afasta o preconceito por trás da hipocrisia, e a análise fria, afasta os devaneios do pensar católico.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 1° de maio de 2008.