Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

sexta-feira, 27 de julho de 2007

A justiça como ideal “quase morto”


A justiça como ideal “quase morto”

Cláudia de Marchi
[1]

Escrevo em estado de choque que, todavia não me faz perder a razão, afinal, ser brasileiro nesta época de corrupção aberrante, escândalos constantes, e da prostração pública diante do absurdo das ocorrências do mundo político e de acontecimentos trágicos e violentos que merecem atenção, enfim, frente ao caos que o País esta beirando (na melhor das hipóteses, em um dia mais pessimista poderia dizer que já esta inserido) exige uma certa complacência psíquica que torna nossos “choques” amenos, por serem, praticamente, rotineiros.
Pois bem, meu choque do momento foi com a decisão da 1ª Câmara Criminal de nosso Tribunal de Justiça ao negar Habeas Corpus impetrado por um casal residente em Porto Alegre em que pediam a inibição de eventual responsabilização penal e liminarmente a “liberação” para a consecução de uma “interrupção terapêutica da gestação de feto com cinco meses com diagnóstico de ausência de calota craniana e dos hemisférios cerebrais – anencefalia.”
[2]. O juiz da 1ª Vara do Júri da capital, Luis Felipe Paim Fernandes, negou a autorização para a prática do aborto, motivo pelo qual o procurador do casal ingressou com o mencionado Habeas Corpus.
Não sou médica e não intento discorrer sobre os efeitos da anencefalia, sobre a existência ou não da vida do feto. A grande maioria das pessoas tem noção do que seja, enfim os anencéfalos não possuem grande parte do cérebro, não tendo a pele que deveria cobrir seu crânio na zona cerebral anterior, nem os hemisférios cerebrais tendo expostos seu tecido nervoso e fibrótico. Basta pesquisar a respeito do tema, que se verá quadros horríveis que, com o perdão da franqueza, repugna ao estômago de qualquer individuo alheio à medicina.
Enfim, os fetos anencéfalos ou morrem no período neonatal em mais de 50% dos casos, ou, se chegarem a nascer a sobrevida é por pouquíssimo tempo
[3], enfim, após a descoberta do mal de seu filho a gestante passa a conviver com a certeza de que esta gerando uma vida que não irá existir em pouco tempo, ou, na opinião de alguns, sequer existe, afinal, onde esta a personalidade humana em “algo” sem cérebro, sem, sequer ter a seu favor a possibilidade de existir, de viver dignamente, enfim? Se a única certeza da vida a partir do momento em que nascemos é que um dia iremos morrer, para os anencéfalos (que sequer podem pensar) esta certeza é comprovada, sendo que, na maioria dos casos nem chegam a “nascer” (entendido o termo como “sair da barriga da mãe com vida”).
A liminar foi indeferida pelo desembargador Roque Miguel Frank que apreciou o mérito do Habeas nesta quarta-feira dia 25 de julho. O relator do acórdão Desembargador Ivan Leomar Bruxel relatou que “em 14 de junho foi realizada ecografia obstétrica que concluiu pela “gestação compatível com aproximadamente 15 semanas de evolução de acordo com exame prévio”; e com a seguinte observação: ‘ Na revisão da anatomia fetal não se observa presença de calota craniana e dos hemisférios cerebrais (Anencefalia)’ .
Quem já viu uma foto de criança anencéfala se espanta ao ver que a cabeça é aberta, não existe pele tapando o que ali esta ausente. É algo triste, lamentável. Penso, pois, nestes pais, mais especificamente na mulher, na mãe que terá que carregar dentro de si uma criança praticamente sem vida. Será que os julgadores que atuaram no processo, do juiz aos desembargadores possuem o mínimo de sensibilidade racional para pensar na dor desta mulher? Em seus traumas, abalos psíquicos, agonia e tristeza? Creio que não, na verdade, infelizmente, em meu ponto de vista tal decisão é irracional, ilógica e aberrante. Existem pessoas com cérebro, saúde e mente, mas que, certamente, não concatenam suas emoções, não conseguindo exercer a chamada compaixão, consubstanciada no nobre gesto do “colocar-se” no lugar do outro.
Ah, mas pensou-se na criança. Na vida, (desculpem-me as palavras diretas), sem vida. Na vida sem pensamento, na vida sem cérebro, na pseudovida de um ser que, em pouco tempo e, provavelmente dentro de sua mãe, deixará de existir. Nascerá morto. A medicina é assertiva nesses casos sendo que médicos do Hospital das Clínicas colocaram-se à disposição para realizar a interrupção terapêutica da gestação que, iria, inclusive, afastar o risco à mãe que possui o dobro de líquido amniótico considerado normal em seu ventre. Mas, com tal decisão os médicos e a gestante incorreriam em crime se agirem. A Justiça gaúcha deu seu “parecer”.
Justiça? Pergunto-me, aonde? Como advogada costumo apiedar-me dos leigos que crêem na Justiça, que chamam juizes, advogados e desembargadores de “doutores” como se fossem seres superiores, mais sapientes, mais corretos. São humanos, portanto errantes. Os advogados postulam, criam teses, argumentam, em sua linda tarefa de procurar a efetivação de direitos, os juizes julgam de acordo com o que os patronos das causas lhes levam. São pessoas normais, e sujeitas a várias influencias, inclusive à convicções morais e religiosas. Aliás, nossa sociedade é permeada pela influência da Santa (?) Igreja Católica e seus dogmas diversos.
Creio, no entanto, que em muitos casos, para ser justo o Direito e a Lei devem se afastar da religião. Falo isso em relação ao controle de natalidade, e, também em relação ao aborto. Todavia, no caso de fetos anencéfalos, creio que até mesmo os católicos mais fervorosos devem colocar em cheque seus arraigados valores.
Resta-me uma pequena alegria por saber que não foi unânime a decisão tendo voto a favor da interrupção da gestação proferido pelo Desembargador Marcel Esquivel Hoppe, que citou voto do Desembargador Manuel José Martinez Lucas, em processo julgado em abril de 2003 (70006088090), tendo afirmado que não vislumbrou razão jurídica relevante para desacolher a pretensão do casal.
De resto, sobra a decepção com tal decisão e um profundo pesar que me faz, em especial, por ser mulher, sentir uma profunda tristeza, e, porque não dizer, uma vontade de chorar pela mãe que até o presente momento não conseguiu seu intento e que, provavelmente terá que levar sua gestação adiante na certeza de que de seu ventre não sairá uma bela criança chorando, quiçá, isto sim, um ser de cabecinha exposta e morto, ou, talvez quase morto. Quase morto como nossa Justiça. Minhas condolências nobre e corajosa mulher. Minha lástima ao povo que ainda espera encontrar justiça nas decisões do Judiciário.

[1] Advogada e especialista em Direito Constitucional pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul.
[2] Transcrito da notícia publicada no dia 27 de julho de 2007 no endereço eletrônico: www.tj.rs.gov.br .
[3]http://64.233.169.104/search?q=cache:eTy082qqs_AJ:www.usp.br/nemge/textos_relacoes_juridicas/anencefalia_silvafranco.pdf+anencefalia+e+efeito&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=9&gl=br.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Aprender e mudar


Aprender e mudar

A gente nasce, os pais nos educam, nos criam para sermos adultos e acabam "criando" vários adendos em nossa personalidade, alguns positivos outros não, de forma que, graças a criação que temos enquanto crianças, passaremos boa parte de nossas vidas tentando nos recriar para melhor vivermos.
Ruim ou bom, certo ou errado, não importa. A única coisa certa que existe é que não se pode esperar algo melhor quando, à pessoas errantes (como nós), é dada a missão de educar um outro ser. Inexistindo pessoas perfeitas, não existirá criação perfeita, do contrário não estaríamos neste mundo imperfeito.
Todavia, tão certo quanto o fato de que nossos pais fizeram por nós o melhor que podiam, nos criaram e nos deram aquilo que eles possuíam em suas mentes, enfim, fizeram o que sabiam, é que, se nos tornamos um pouco complexos, complicados ou presos a algo, depende apenas de nós a mudança e a evolução.
Constatar o erro é uma coisa, atribui-lo constantemente à quem nos criou sem que ajamos em prol da mudança é sinal de covardia e imaturidade. O homem vive aprendendo, desde que nasce esta exposto ao aprendizado, aprender é, pois, sinônimo de mudança. Ninguém continua a mesma pessoa depois de um aprendizado, seja ele conquistado numa queda, ou na calma do amor e da humildade de quem sabe que é possível aprender ouvindo e indagando.
Os pais devem criar seus filhos para o mundo, e estes devem se recriar para serem felizes, realmente, no mundo. Não existe instinto não vencível pela razão e pelo auto-conhecimento, não existe "reflexo educacional" não superável pela vontade de se tornar alguém melhor. Crescer, evoluir e se auto-modificar, eis a regra da vida do nascimento à morte e, quiçá, após ela.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 24 de julho de 2007.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

VERGONHA!

Vergonha!

Tem dias em que algo me incomoda. Acho que é uma vontade de gritar, de berrar, de esbravejar e, porque não dizer, de guerrear. Guerrear sem pensar em paz, em tranqüilidade, mas não uma guerra de psicóticos sanguinários, apenas uma revolução, uma luta contra tudo o que esta errado e me atormenta, me indigna. Uma luta contra o próprio instinto que recebi com meu sangue de pessoa gerada no Brasil: "Sou brasileiro e não desisto nunca" vem junto com um tal de "sou brasileiro e não me rebelo nunca".
Podem os políticos me roubar, posso pagar corretamente todos os impostos e continuar andando em rodovias cheias de buracos, desníveis e perigos, além de ter medo de sair da minha própria casa e ser assassinada ou violentada psiquicamente num assalto em que me levam os poucos trocados que tenho na carteira e que conquistei sendo uma "boa cidadã" brasileira que nunca desiste.
Posso pagar impostos, contribuições e taxas e contar com um sistema previdenciário de quinta categoria, com um sistema de saúde que é, na verdade um atentado ao equilíbrio físico e mental de qualquer individuo e me obriga a pagar quase cem reais por mês em um plano de saúde que mais me usurpa do que ajuda, não posso contar nem com saúde e segurança e já planejo colocar meus filhos que ainda não nasceram em escolas privadas.
O Sul trabalha, o Norte e Nordeste recebem sua assistência. E assim o governo distribui o peixe, mas não ensina os seus dependentes a pescar. Povo submisso, necessitado e sem cultura, votos garantidos. Mas a classe média queda-se silente na tranqüilidade de seus lares.
O País não funciona direito, o caos é aéreo, é térreo e desconfio que o fundo do mar seja o lugar mais seguro, apesar de ter vontade de para lá mandar esses larápios que convencem o povo, ou a ignorância e a leniência implícitas nesse jeitinho brasileiro vulgar, insosso e sem brio. Um País em que um desastre da aviação ocorre em terra, na hora do pouso. Um País em que demandas judiciais urgentes demoram meses para terem uma pseudo-resolução, em que liminares de máxima necessidade levam dias e quiçá meses para serem cumpridas.
Um Brasil em que as coisas não funcionam, não, ao menos, em benefício da população honesta, mas em que muita coisa funciona no que se refere a impunidade, a benefício dos mais abastados, terra onde organizações criminosas de colarinho branco, vermelho, verde ou encardido obtém lucros a custa da tolerância demasiada dos outros.
O povo que pensa e que ainda possui uma certa capacidade de indignação precisar ter força para lutar contra sua passividade, contra esse instinto, contra essa cultura lamentável e pérfida do "agüentar", do "esperar que um dia melhora", do "deixar passar", e do "esquecer" o que deveria ser inesquecível e tolerar o intolerável.
É preciso organização popular após a reflexão, é preciso que a população se rebele contra essa escória que domina o Brasil, contra a mídia engambeladora, contra a burrice contagiosa, contra sua tendência de passividade constante e não aceite com orgulho e sorriso nos lábios viver no chamado País do futebol e terra das bundas bonitas pena de continuar com a cara das mesmas assistindo esportes na televisão para esquecer da realidade. Até quando isso vai ser verdade e terei que ficar acordada pensando na imensa vergonha que me aflige?Vergonha de ser brasileira.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 19 de julho de 2007.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O desdém aos "ex" dos recalcados

O desdém aos "ex" dos recalcados

Poucos atos humanos são tão ridículos quanto os que são albergados pela expressão "cuspir no prato que comeu". Aliás, por trás do ato de fazer pouco caso de relações pretéritas, de amizades antigas, enfim, de criticar o que outrora foi cultivado e estimado, esta um grande recalque: Se hoje se critica o que um dia se teve é porque, por um motivo ou outro, não se conseguiu manter o que era "estimado".
Pessoas terminam casamentos, afastam-se de pessoas que lhes eram bem quistas e não hesitam em criticar, falar, atribuir ao outro suas mazelas, olvidando do fato de que nada finda por si só ou por culpa de uma pessoa apenas. É fácil atirar pedra no telhado alheio, difícil é perceber que o seu é de vidro.
De todas as alegações ingratas e afirmativas típica de indivíduos tolos e sem auto-estima a pior é a de que "ela não me fazia feliz". Aliás, como advogada eu ouvia muito essas expressões (por isso não atuo com freqüência na área de Direito de Família, prefiro até mesmo Direito Criminal): A pessoa viveu 15 anos com a outra e depois pára na sua frente e com fel na língua desabafa o que acha ser certo e justo sem perceber que a cada palavra dirigida contra o outro esta, implicitamente, lançando duas contra si mesma.
Ora, se o outro "era" de tal forma, porque ficou anos de sua vida com ele? Como o amou? Logo, para cada adjetivo em desabono alheio surgem dois (ou mais) substantivos contra quem lhes diz: Ignorância, carência e quiçá a expressão "pouco apreço por si mesmo". Enfim, falar mal daquele que ficou anos ao seu lado é um ato, no mínimo, tolo. Existem motivos para o fim da relação? Ótimo, então que se falem neles sem que haja necessidade de despejar um caminhão de mágoas mal resolvidas.
Sempre digo que julgar não é um bom hábito, mas a análise racional do outro é um pouco menos negativa. Ver o que de fato é verdade, analisar a conduta de ambas as pessoas, e buscar ser justo, sem depreciar o outro, apenas constatando suas reais mancadas, porém sem buscar "culpa alheia" quando os deméritos devem ser divididos. Sem estender, de forma cega e irracional, críticas do que sequer merece ser criticado.
O mesmo vale para quem viveu em união estável ou namorou alguém durante anos e sai criticando, e, pior ainda, fazendo-se de vítima do outro. Aliás, este é um gesto mas comum dentre as mulheres. Depreciam aquele que amaram, e que, quiçá fazia pouco caso de seus sentimentos, mas pelo qual eram apaixonadas e ousam culpa-lo pela sua infelicidade no período em que estavam em sua companhia.
Cada pessoa é o respeito que tem por si. Quem não se ama e valoriza não é amado nem valorizado, isso é uma verdade. Ademais, ninguém é obrigado a amar ninguém, e reconhecer o fato de que, simplesmente, não eram amadas é mais difícil do que criticar ao "ex" (que lhes gerou grandes recalques afetivos) e supervalorizar sua companhia atual como uma forma de abafarem o grito do inconsciente: "O fulano por quem eu morria de amores não quis ficar, namorar ou casar comigo!".
Aliás, o (a) "ex" calhorda pode ser um (a) excelente amante para outra pessoa. E é isso que incomoda quem, lá no fundo, conserva o recalque de não ter sido bem amado (a), e insiste em apregoar os defeitos alheios apimentados com uma dose dupla de fel, de desdém. Desdém típico dos recalcados que não tem a classe de calar-se ao falar de quem um dia amaram e por quem, um dia, chegaram a se humilhar.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 12 de julho de 2007.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Mudar e renascer

Mudar e renascer

Realmente, triste não é mudar de idéias, mas não ter idéias para mudar, Francis Bacon disse isso com muita adequação. Aliás, o verbo mudar, amar e renascer são os mais belos de todos. Mudar é sinônimo de viver. Aqueles que estão nesse mundo, reclamando, remoendo problemas e neuras, se sentindo culpados por tudo ou culpando aos outros apenas existem. Quem vive reflete sobre a vida, sobre si mesmo, sobre o mundo, quem vive ama intensamente e curte todos seus minutos com alegria, é, pois alegre por estar vivo.
Mudar de idéias, mudar de rumos, mudar de ideais, mudar de sonhos e, mais do que tudo, mudar a si mesmo é imprescindível. O homem renasce a cada passo dado, a cada defeito reconhecido, a cada viagem que faz dentro de si mesmo e de seu coração. Não há nada mais triste e lastimável do que uma pessoa que não consegue olhar para dentro de si mesma sem desejar fugir.
Talvez a mais perigosa das viagens seja a interior. É lá em nosso íntimo que iremos encontrar monstros negros chamados de Medos, cobras gigantes chamadas de Mágoa, leões ferozes chamados de Ódio que vivem perto dos tigres denominados de Ira, aranhas de veneno letal chamadas de Arrependimento, e alguns lobos chamados de Ressentimento que vivem juntos com suas fêmeas, as lobas chamadas de Culpa.
É olhando para dentro de nós que veremos o que temos que vencer, o que precisamos superar para nos tornarmos pessoas melhores e, principalmente, almas libertas e felizes sabendo que essa responsabilidade é unicamente nossa. É apenas após nos desprender dos predadores interiores que iremos encontrar o equilíbrio necessário para a construção de uma vida e relacionamentos equilibrados e alegres.
Navegar é preciso, disse Fernando Pessoa. Se aventurar por dentro de si mesmo, viajar por entre lembranças, por entre recalques e anseios mal resolvidos, a sós conosco, sem máscaras, sem fuga, sem atribuir a ninguém nossas características infelizes é mais do que necessário para a construção de uma personalidade saudável.
Eis que eu mudei de idéia: Se outrora era contra a instrução psicológica e psicanalítica hoje digo que os primeiros são os melhores instrutores do ser humano nessa viagem interior que denomino de "Viajem do Renascimento" onde iremos matar o que nos aflige independentemente de termos consciência deste fato.
Sem preconceitos: Psicólogos e psiquiatras não são para "loucos" são para pessoas que são saudáveis a ponto de saber que devem e desejam mudar. E, ainda que fossem o fato é que de "médico e louco todos temos um pouco", esperar o que de pessoas que foram educadas, criadas por seres humanos e não por Anjos ou Santos? Seres errantes e com muitas idéias erradas que se aproximam da sabedoria na medida em que reconhecem este fato.
Insanos mesmo, ou, pior, ignorantes são aqueles que acham que o mundo e quem lhes cerca deve mudar, mas eles não. À estes tragam a camisa de forças, ou os deixem na solidão, remoendo o sentimento de que são vítimas da humanidade, de que são coitados solitários, até um dia em que a benção da lucidez recaía sobre seus espíritos e eles consigam ver a realidade do que fizeram com suas vidas enquanto imergiam-se em orgulho. Aliás, o orgulho e a arrogância aproximam o homem da insanidade. Da insanidade torpe, da insanidade tosca e ignorante.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 10 de julho de 2007.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Hoje é o dia


Hoje é o dia

Hoje é o dia da vida. Não adianta remoer fatos pretéritos, cultivar ódios, mágoas, raiva contra os outros ou contra si mesmo. Hoje é o dia de viver porque amanha a gente não sabe onde estará. Viver cada dia como se fosse o último. Plantar as sementes dos sonhos hoje, visualizar a colheita no amanha, mas amar, ser alegre, ser feliz e curtir bem o dia de hoje, porque a vida é agora.
Impossível viver sem planos. Quem não planeja não ama, não se ama, não vive. Ter metas e sonhos é sinônimo de esperança, agir de forma a realiza-los é indício de coragem e força de espírito, mas viver o presente com alegria desejando mante-lá no amanha é sinal de sabedoria.
O mal dos homens é que eles esquecem de ser felizes no momento pensando que amanha, quando os honorários chegarem, quando o devedor pagar, quando o filho se empregar, quando a lipo for feita, quando a dieta acabar se sentirão felizes. Mas o amanha talvez não aconteça e nele podemos deixar a memória de nossos sonhos e planos, mas, nunca sentimentos não sentidos intensamente.
Vamos viver bons momentos com quem amamos como se não existisse outro dia. Vamos pedir perdão para quem magoamos, vamos fazer ao outro o que queremos que ele nos faça, sem trair, sem trapacear, sem mentir. Sejamos carinhosos, atenciosos e pacientes. Não nos deixemos contaminar por pensamentos negativos, por ciúme, ira, ou ódio. Vamos ter tranqüilidade de espírito, paz e alegria de viver no presente.
Vamos fazer nossas refeições com um pouco mais de calma, vamos tentar ouvir àqueles que querem, apenas, desabafar suas agruras, vamos dar mais atenção à nossos pais sem julga-los ou critica-los. Façamos amor como se fosse a última fez, beijemos como se nunca mais fossemos ter tal prazer.
Gozemos a vida hoje com a intensidade típica do espírito que esta ciente de que o futuro é incerto e que planos podem ficar sem ser realizados, mas sentimentos guardados na gaveta do "amanha eu faço" não. A dor pela falta de realização desses, certamente é forte. O certo é que passamos a vida buscando bens materiais e esquecemos, muitas vezes, de sentir. De sentir amor, de sentir compaixão, deixamos nossa alma de lado para cuidar daquilo que, certamente vamos deixar nesse mundo, enquanto ela sempre irá nos acompanhar, inclusive com o arrependimento de não ter amado mais, sentido mais, vivido mais.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 09 de julho de 2007.

Perdão

Perdão

Toda mudança pessoal requer perdão. Viver é ter que perdoar, é ter que exercitar o perdão, por mais que tente é impossível ao homem olvidar dessa realidade. Precisamos perdoar sempre, ou a alguém ou a nós mesmos por não termos agido ontem com a mesma sapiência que, talvez agiríamos hoje e, por isso lastimamos nossos atos pretéritos nos mais variados "âmbitos" de nossas vidas.
Ora, mas o que somos se não o produto daquilo que fomos no passado somado ao aprendizado que obtivemos, inclusive e, principalmente, com nossos erros?Então, porque não nos damos a chance de aceitar nosso passado e aquilo que não podemos mudar, para sermos felizes no presente e no futuro?
Aceitar o que não podemos mudar é uma sábia forma de nos perdoarmos.Ter conosco a certeza de que se erramos foi porque não sabíamos muita coisa que, talvez, a vida tenha nos ensinado com o passar do tempo. Nenhuma lágrima derramada, nenhuma frustração é em vão nessa vida.
Quanto a perdoar os outros basta que entendamos que as pessoas são imperfeitas e que, nada acontece por acaso, logo, não adianta nos sentirmos vítimas de males alheios. Se assim agirmos estaremos cultivando o ódio não apenas do outro, mas, principalmente à nós mesmos. Estaremos, pois, conservando nosso coração infeliz num freezer de mágoas.
Se fomos "vítimas" de algo foi porque agimos de forma compatível com os intuitos alheios, restando-nos, pois perdoar e nos libertar da ira e do ódio que aprisionam nossa alma, para que possamos ser leves de espírito e felizes novamente, ou passaremos a vida remoendo a mágoa que não mata nem fere ninguém. Ninguém, com exceção de nós mesmos.
O perdão é uma chave para a porta da alegria, da tranqüilidade e da harmonia de espírito. Não é fácil perdoar, tampouco se perdoar. É preciso perseverança, amor próprio, amor à vida, paciência, e força de espírito. Todavia, o resultado é rejubilador e, certamente, gratificante. De todas as batalhas que o homem possa enfrentar as mais difíceis são as interiores. E o homem que vence seus instintos negativos, seu ódio, e a falta de perdão que carrega consigo venceu a pior das batalhas e conquistou a liberdade mais importante: Libertou sua alma.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 09 de julho de 2007.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

A cultura do menosprezo

A cultura do menosprezo

A grande maioria das pessoas foram educadas sob e égide da "cultura do negativo e do menosprezo". Poucos elogios, poucas afirmativas a respeito da magnitude, bondade, beleza e correção das atitudes e das pessoas, pelo contrário, pode-se agir certo sempre, diante do primeiro erro surge a reclamação, as alegações enfáticas e quase dramáticas que ferem a auto-estima alheia e tendem a indiciar ao outro que "tudo" é errado e que "tudo" sempre é ruim, afinal sobre o bem ou sobre o bom não se comenta, não se faz alardes.
E, assim as pessoas levam para suas vidas a "cultura negativista" que menospreza o bem e o bom dos outros para fazer ode à seus erros. Não elogiam ao outro quando ele esta elegante, bonito e alegre, quando dá uma opinião inteligente e sensata, não elogiam diariamente a comida da mãe, da esposa ou da doméstica, mas quando o sal é demais (ou de menos) urgem reclamações.
O desejo pelo "reconhecimento" é algo natural do ser humano o que não implica, necessariamente, numa obstinação, mas, isto sim, é um anseio normal, comum, que todos possuem, mas que costuma ficar latente porque, bem ou mal, todos se acostumam com esse estranho "funcionamento" da vida - poucos, ou quase ninguém, "reconhecem" o bom ou o bem que é feito.
Todavia, é quando somos deparados com uma crítica negativa que revive em nós aquela sensação, o anseio de reconhecimento vem como se fosse regurgitado, e pensamos: "Porque ele (a) nunca comenta ou elogia quando ajo ou estou bem?". É normal, e é nesse momento que fica evidente os efeitos lastimáveis dessa forma de viver que o homem manteve durante e que, praticamente, se tornou hereditária.
É a cultura do menosprezo, a cultura do orgulho, da falta de carinho. Os pais não elogiam seus filhos pelo bom comportamento durante 6 dias da semana, mas xingam, batem e gritam graças a "arte" que fizeram no domingo, e, assim, lá no fundo, muitos criam a idéia: "Então, do que vale ser bom se nunca reconhecem e se, por um erro sou tão castigado?".
É preciso, pois, que os pais passem muitos outros "bons valores" aos filhos para que eles não se "rendam" a esta forma vulgar, mas humana e óbvia de raciocinar e não se tornem pessoas mentalmente perturbadas e, quiçá, delinqüentes. Enfim, teriam muitas mudanças as relações humanas se essa cultura fosse transmutada para a cultura da virtude, para a cultura do elogio sincero e do afeto.
Elogiar o que é bom, fazer comentários sobre as ações justas, sobre as menções agradáveis, sobre os atos legais, elogiar o outro, física ou psiquicamente, e não menosprezar e criticar quando, em uma eventualidade, o outro desagradou. Agir assim traz mais harmonia nos relacionamentos humanos da mesma forma em que é uma forma de agir que deixa claro que o que vale a pena é ser bom, é agir bem.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 04 de julho de 2007.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Pseudo-adultos

Pseudo-adultos

Ser adulto. Ser criança. O que significa, na verdade, “ser adulto”? Dizem que a separação dos pais abala a estrutura psíquica dos filhos, das crianças. Meus pais se separaram e procurar uma psicóloga foi minha melhor opção depois de 6 meses de turbulência emocional. Ora, mas eu não sou criança, sou adulta. Será?
Ser adulto é sinônimo de independência psíquica e financeira, é ter sonhos e correr atrás deles sem ser levado no colo, é não depender do consentimento alheio para fazer o que se deseja. Pois, estas são características do mundo das pessoas mais velhas não significa muito, não significa um atestado de maturidade e sapiência mental.
Não significa nada mediante as inúmeras surpresas que a vida nos prega, diante daquelas que nos deixam sem chão, que nos fazem sentir perdidos, meio sem rumo, como foi o caso da separação que mencionei.
Quando os pais se divorciam e possuem filhos pequenos eles passam a agir com os menores de forma a suprir-lhes a carência. Os mais conscientes dialogam, explicam, dão apoio, dão força para as crianças, e elas acabam amadurecendo, mas sem ser cobradas, exigidas e pressionadas à isso.
Quando pais de adultos, ou melhor, quando pais daqueles tidos como adultos, se separam eles pedem apoio aos filhos e acabam negligenciando os efeitos do divórcio na mente do individuo que, certamente, estava imersa em algumas ilusões. “Mamãe e papai se amam, vão viajar juntos e esperar os netinhos chegar daqui uns anos”:Ilusão. Sonho. Engano.
E, foi nessas circunstancias que eu cheguei a conclusão que adultos são, realmente, os homens que não se iludem, são aqueles que não possuem mais nenhuma idéia romântica, nenhuma ilusão a respeito de suas relações, a respeito do mundo, e da convivência alheia.
A partir do momento em que estamos, no presente, fazendo planos (ainda que no silêncio de nossas almas) para o futuro estamos criando alguma ilusão porque, do amanha, nada sabemos. Ele é incerto e, pensando nele, visualizando ele, estamos tendo a mesma pretensão que tem uma criança ao dizer que “quando crescer quer ser médica”.
(Faço, pois, literalmente, um parêntese: Que graça tem a vida sem nenhuma ilusão? Sem nenhuma esperança, nenhum sonho? Os adultos se tornam mais alegres quando deixam a criança que tem em si aflorar. Há, portanto de se ter a sapiência para faze-la dormir na grande parte dos momentos, o que nem sempre é fácil.)
Acredito, pois que é impossível ser sempre adulto. Muito embora as pessoas sejam maduras elas não conseguem viver sem expectativas, sem risos, sem piadas, sem cometer um ato irresponsável de vez em quando, ou, simplesmente sem sonhar, sem esperar um amanha melhor em algum aspecto de suas existências. A grande parte dos homens é, portanto, pseudo-adulta. Ainda bem.
Essa é a graça da vida e na vida humana, a tarefa, porém, é buscar a sabedoria, é aprender, com a dor, ou através do amor, a superar as crises, assimilar a dor e seguir adiante, ainda que para isso seja preciso recorrer a algum profissional ou a um ombro bem amigo em alguma circunstância. O essencial, na verdade, é o desejo pelo aprimoramento pessoal.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 04 de julho de 2007.

O amor e suas fases

O amor e suas fases

O amor muda de formas com o passar do tempo de forma fazendo com que os relacionamentos tenham algumas fases, cada uma com sua graça, com seu brilho. Não é, pois, o amor quem morre ou finda são os homens que o abafam com sua ansiedade, insegurança e ilusões demasiadas.
No início de qualquer relacionamento existe a magia do “descobrir” o outro. Dois desconhecidos juntos por um motivo apenas - um sentimento, algo inexplicável que, por prudência, nem deve ser chamado de amor. (Talvez seja o “prelúdio do amor” incentivando as pessoas a se conhecerem, afinal nada acontece por acaso.)
Depois de algum tempo, surge o conhecimento das virtudes e dos defeitos (sim, porque onde os defeitos não são conhecidos – e respeitados- não há amor, e sim um sentimento que acaba tão facilmente quanto arrebata), e a admiração pelas primeiras, fazendo emergir o encantamento.
Inexiste amor sem admiração pelas virtudes alheias. Não pela beleza física, mas pela beleza da alma, do coração. Por mais belo que seja um individuo ele não será apenas por isso capaz de cativar o amor de alguém. É preciso muito mais, é preciso ter valores que não serão amenizados com o tempo.
Com o passar dos anos, a admiração se mantém, mas alguns defeitos podem começar a incomodar. Juntos, unidos, o casal se sente mais “à vontade” para expor alguns pensamentos que podem ser incomodativos e, talvez, não fossem expostos na fase inicial do romance. Todavia, ambos estão seguros de seus sentimentos. Surge um amor mais “tranqüilo”.
Cada fase com seu brilho: No início a empolgação, misturada com uma certa ansiedade e insegurança perniciosa, com o passar do tempo a segurança, o entrosamento, o “conhecer-se pelo olhar”. A fase onde o diálogo se torna mais liberto de receios, de medos. Brigas menos freqüentes, ou, ao menos, mais facilmente findadas.
E assim a vida segue. A paixão diminui, o tesão não. A atração pelo outro continua quando o amor é verdadeiro e quando o sexo é bom, ou melhor, excelente entre o casal. Curiosidade?Anseios poligâmicos? Podem até surgir, mas uma pessoa que ama verdadeiramente sabe que não vale a pena arriscar perder uma pessoa especial, que lhe despertou tão nobre sentimento apenas por um anseio carnal tosco.
O sexo não oferece muitas novidades e variações (quando já são feitas com quem se ama entre quatro paredes), logo não é válido arriscar um amor por uma bobeira. O gozo é sempre bom, mas não é, tampouco será tão prazeroso quanto o que se tem com quem se ama.
Têm-se filhos, superam-se crises, brigas, tpms, estresses masculinos, etc. E a paciência urge, sempre, como uma necessidade, como a base da compreensão e a aceitação de que, não é porque o amor mudou de formas no curso da relação que ele tenha morrido. É preciso redescobri-lo, reinventa-lo, compreender que depois de anos de união nenhum dos cônjuges é o mesmo. É preciso se “reapaixonar” pela “nova” velha companheira (o).
Paciência e inteligência são ingredientes indispensáveis para a mantença de uma relação duradoura. Alguns duvidam que isso possa ocorrer, ou por serem muito românticos, ou por serem demasiado materialistas. Mas, ambos, certamente estão bem equivocados e sendo pouco racionais.
Uma pessoa madura sabe o que quer, e sabe que amor de verdade não se encontra em qualquer esquina, logo compreende que não custa se dedicar ao relacionamento, se autocompreender, entender o outro, ser paciente e lutar pela mantença daquilo que é sincero e, apesar dos pesares, puro. (O amor aproxima os homens de Deus.)

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 04 de julho de 2007.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Os "classe média" delinqüentes

Os "classe média" delinqüentes

O que leva jovens com um futuro promissor pela frente a espancar uma desconhecida e, posteriormente, afirmar em sua "defesa" que o fizeram porque acreditavam que ela era uma prostituta? O que faz, portanto, com que seres humanos tenham atitudes inferiores as dos animais selvagens (afinal o ser humano, diz-se, é "racional")?
O drama da doméstica carioca Sueli que foi espancada por jovens "classe média" num bairro de alta classe do Rio de Janeiro comoveu o País, todavia, mais do que revolta o fato deve fazer as pessoas refletirem. Deve, no mínimo, tirar o sono dos pais, daqueles que, corajosamente, resolveram colocar vidas no mundo e por elas possuem grande responsabilidade.
Pais não são perfeitos, são seres humanos, porém seu dever é educar seus filhos da melhor forma possível. E educar não consiste em dar mordomias, dinheiro, em colocar os filhos em "aulas" variadas: idiomas, ballet, futebol, piano, violão. Educar é dialogar, é interagir, é ter contato, é, acima de tudo estar no justo limite da amizade e da imposição de respeito. Saliente-se respeito conquistado no amor e pelo amor e não no medo, no receio de gritos e surras.
Pois bem, o que chamou a atenção da maioria das pessoas foi o fato dos delinqüentes serem de classe média. Afinal, reside no imaginário popular que apenas pobres podem ser bandidos, podem ser delinqüentes. Pensamentos preconceituosos de uma sociedade exclusora, estigmatizadora e pouco racional. Pouco, na verdade, sensível e esperta.
Eu não me espantei com a classe social dos rapazes. Estudei nas melhores escolas, fiz faculdade em Instituição de Ensino Superior privada e posso afirmar que conheci pessoas cruéis. Frias como gelo, tolas como um gato girando ao redor do próprio rabo. Dinheiro e classe social não remetem, nem nunca deveriam remeter o pensamento humano à existência de (bom) caráter, honestidade e boa educação.
Me espantei, pois, com a capacidade daquelas pessoas. Daqueles jovens "bem nascidos" e preconceituosos. Mais do que isso, com as afirmativas dos pais: "Se meu filho vier a ser condenado ...". Eu gostaria de ouvir "meu filho deve ser condenado e ...". Infelizmente, o Estado deve reprimir (e, sabe-se bem, teoricamente), tentar corrigir aqueles que saíram de casa sem correção. Deve, enfim o Poder Público tentar castigar aos mau educados pelos pais, ou pela vida, no caso dos infratores da lei pobres cuja educação familiar é inexistente - são largados ao léu por uma mãe de pai (possivelmente) desconhecido ou presidiário. Esta é a realidade de muitos, mas não a do caso que comento.
Disse Pitágoras do alto de sua sapiência: "Eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens". E é verdade. Não que a "culpa" por tudo seja dos pais, mas alguma falha existe. Sobrou mimos, dinheiro talvez, na criação dos rapazes, mas faltou o ensinamento, a instrução do que seja compaixão, piedade, sensibilidade. Faltou, talvez, uma criação mais "espiritualizada" que dissesse: "Meu filho, não faça ao outro o que não queres que te façam". Quem gostaria de apanhar no rosto com ponta pés, covardemente?
Não estou apregoando a religião como meio, mas a valorização do ser humano como igual independente de classe social ou profissão (bateram porque acharam que era "prostituta"?!), mas o respeito ao homem, e para tanto, uma visão menos materialista, mais espiritual e sensível do mundo seria fundamental. Cristo disse muito, porque não retornar à seus ensinamentos, porque olvidar de suas palavras?
O homem não é sapiente por saber falar inglês e espanhol, por ter habilidades sensacionais com informática ou por ser filho de Desembargador, o homem só possui nobreza se possuir sensibilidade, se tiver empatia na vida. Não falo de crenças, de fé, de ir todos os domingos à Igreja, falo da valorização das palavras cristãs. Falo da necessidade de "amar ao próximo" como a si mesmo adaptado (por mim) à verdade humana e errante: "Respeitar ao próximo como se deseja ser respeitado".
Educar é repreender quando necessário, e, hoje, mais do que nunca se sabe da importância do diálogo. Os bons pais são aqueles que abdicam do egoísmo, que aprendem a conhecer seus filhos, aqueles que pensam no caráter do adulto que estão ajudando a formar e com eles, desde a infância, interagem como amigos experientes, que pelo amor que dão têm deles o respeito e a estima. São aqueles que, independente da religião, ensinam a importância da compaixão, do "colocar-se" no lugar do outro, enfim.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 02 de julho de 2006.